quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O abuso de poder em Cabo Verde

Por vezes somos impelidos a criticar a gestão de determinadas instituições estatais. A vontade legítima de mudar algo leva-nos a elaborar críticas apaixonadas e destrutivas sobre a gestão de beltrano, críticas essas, por vezes, até injustas. Mas se acompanharmos atentamente o percurso das coisas, podemos observar que entra gestor, sai gestor, entra ministro sai ministro as críticas continuam sendo as mesmas. Logo, concluímos que afinal o sistema está traçado com linhas diferentes daquelas que usamos para desenhar o entendimento sobre como funcionam essas instituições.

Constatamos à vista desarmada que existe uma falha de comunicação entre os sucessivos governos e a sociedade civil relativamente à divulgação de projectos. Ou será que a própria composição das maquinarias governamentais é incompatível com a participação da sociedade civil na construção das próprias políticas públicas?

O Doutor Onésimo Silveira afirma que "É preciso que as regiões sejam dotadas de poder de decisão para poderem participar realmente no desenvolvimento do país. Quem está a participar no desenvolvimento do país são os partidos políticos através da Assembleia Nacional, as regiões não. E elas têm que ter um papel dinâmico na solução dos problemas políticos, de desemprego etc" (Jornal A Semana 21 de Maio de 2010)

As histórias chegam confundir-se de tão repetitivas e semelhantes. Ou não há verba para projectos locais, ou porque a Praia não dá feedback às correspondências enviadas e por aí adiante.

Os ministérios nomeiam seus representantes em cada concelho não para serem mediadores entre o local e a capital, mas para serem executores das directivas do poder central. As agendas políticas estão longe de permitir a autonomia dos órgãos locais, isto é, não se pretende melhorar o desempenho de cada repartição, a não ser através de palavras de fachada. Portanto os projectos e prioridades locais são completamente ignorados, prejudicando assim o desenvolvimento local.

Este nosso modelo de governação acarreta uma série de consequências desastrosas a nível humano, principalmente para as regiões com características urbanas acentuadas. O desemprego, o sub-emprego, os problemas sociais acrescidos, a violência doméstica, abandono escolar, a delinquência juvenil, vandalismo, entre outras.

Assim é o sistema, com tecnologia de ponta a nível de telecomandos adaptáveis à característica insular do país. Os políticos demagogos podem guardar os seus discursos paternalistas porque os locais estão conscientes que o progresso local constitui um empecilho para o abuso do poder e leva à descentralização do mesmo, ora isso, como todos podem constatar, não consta das agendas políticas dos governos.

Daqui a pouco, são as eleições legislativas, em jeito de celebração de uma ilusão e lá vamos nós obedientes exercer o dever cívico de votar, melhor dizendo, alimentar a corrida desenfreada de dois partidos ao semi-autoritarismo cada vez mais evidente.

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