O texto
está dividido nos seguintes assuntos:
- A mulher indígena da América.
- O uso do Véu no mundo islâmico, um direito
negado às mulheres islâmicas pelo mundo ocidental.
- A “não vida” da mulher asiática.
- A poderosa mulher Igbo da África.
- As raízes da misoginia cabo-verdiana.
Para
entender o lugar da mulher na sociedade é preciso conhecer a relação entre seus
pares (companheiro, filhos, familiares). Há que conhecer a formação da sua
identidade, seus grupos sociais e seu posicionamento.
Antes da chegada dos colonizadores europeus, a América era,
habitada por uma multiplicidade de povos com costumes e línguas diferentes há
mais de 15 mil anos. É possível detetar em várias culturas pré-hispânicas a
participação ativa e importante das mulheres nas instituições e nas actividades guerreiras.
Guerreira Boliviana Gregoria Apaza
As
mulheres indígenas sofreram brutalmente com a marginalização, a escravidão e a
violência sexual cometida pelos colonizadores. Nesse sentido, a chegada dos
europeus alterou profundamente os papéis que essas mulheres exerciam no
interior de suas organizações sociais.
A mulher indígena era vista como mulher
selvagem e com presença do Diabo. O objetivo do Brasil colonial era abafar a sexualidade
da mulher, pois esta era contra as leis do Estado, da Igreja e dos pais
Se a
mulher se tornasse cúmplice da vergonha, o homem estava obrigado retalhar o
comportamento dela para recuperar a honra.
O uso do Véu no mundo islâmico, um direito negado às
mulheres islâmicas pelo mundo ocidental
Quando se
trata de mulher muçulmana, o véu islâmico adquire proporções significativas no
imaginário social. É comum que as pessoas se perguntem o que faz as mulheres
usarem essas vestimentas tão diferentes das que estamos acostumadas no
ocidente.
O uso
desta vestimenta é cada vez mais estigmatizado pela sociedade e pelos meios de
comunicação.
Em 13 de
julho de 2010, o governo francês – com base no projeto de Lei nº. 524 – passou
a proibir o uso da burca (vestimenta islâmica usada no Afeganistão e no
Paquistão) em vias públicas, em lugares abertos ao público e nos destinados aos
serviços públicos.
Para os
direito Humanos, considerar que toda mulher que usa burca é submissa e deve ser
“salva” pelos ocidentais é tão violento quanto obrigá-la a usar tal vestimenta.
A proibição do uso destas vestimentas islâmicas esconde um discurso “civilizacional”
e “ideológico”
Leila Ahmed (1992), em seu livro Womem and gender in Islam Um dos pontos interessantes do seu trabalho é considerar que no Egito a dominação masculina foi muito mais “branda” quando comparada à Grécia e à antiga Mesopotâmia, devido à influência europeia e cristã naquele país e também aos sentimentos de igualitarismo, humanismo e justiça, contribuindo assim para uma melhor relação de gênero. (AHMED, 1992 p.33)
(Lila ABU-LUGHOD, 2012) vai além e diz
que o Taliban não inventou a burca no Afeganistão; na verdade, a burca foi uma
das muitas formas de cobertura que se desenvolveu no subcontinente e sudoeste
da Ásia como uma convenção que simboliza a modéstia das mulheres ou
respeitabilidade. Cobrir o rosto em determinados contextos significa maneiras
de demonstrar autorespeito e posição social
Fatema Mernissi apresenta o véu não como algo
depreciador do sexo feminino, mas como algo diacriticamente contextualizado e
vinculado ao reconhecimento da identidade cultural e feminina de determinado
grupo social.
A “não vida” da mulher asiática
A mulher asiática
sempre foi vista como submissa e virtuosa, é esperado que elas guardem a
virgindade até ao casamento, devem assumir as tarefas domésticas, ser fiel e
servir o marido. Ela tem dificuldade em exercer os seus direitos legais. Os
países asiáticos mais violentos para a mulher são Ìndia, Paquistão e
Afeganistão.
Em geral,
muitas mulheres na Ásia são consideradas mercadoria ou um peso. Quando o
dinheiro é pouco, elas são as últimas a comer. Na Tailândia elas são vendidas a
agentes que as revendem para prostituição.
Na China,
mundo rural ainda há regras que restringem o papel da mulher, embora elas sejam
maioria no mundo urbano, sendo maioria absoluta em muitos cursos, a maioria das
urbanas têm ensino universitário, fala inglês e já visitou outros países.
Na China,
a prática da amarração dos pés consistia em quebrar os pés da criança em 4
partes distintas, depois dobrado e enfaixado com o objetivo de atingir 7 a 10
cm. As mulheres que não tinham os pés amarrados não conseguiam bom casamento,
por isso eram humilhadas pela sociedade. Em 1911 esta prática foi abolida.
Mulher chinesa com pés amarrados
A cultura
da violação constitui uma arma de guerra. Com a violação, a consequente miscigenação
acabava com os grupos étnicos. Esta prática era levemente considerada como um
efeito colateral da guerra por isso perdura a cultura da violação, do machismo
e da misoginia.
Durante a
segunda Guerra mundial, havia casas de conforto com escravas sexuais no Japão,
na China, nas Filipinas, na Nova Guiné e no Taiwan.
Em 2015 a
china aprova a lei contra a violência da mulher mas muitas consideram tal lei
inútil. Na china 1 em 4 mulheres são vítimas de violência domértica. A mulher
chinesa quando chega as 30 anos solteira, ela é pressionada para casar. Muitas
procuram agencias de matrimónio.
A poderosa mulher Igbo.
Mulher Igbo
O povo
IGbo são um dos maiores grupos étnicos que habitam o leste, sul e sudeste de
Nigéria, além de Camarões e guiné equatorial. Foi o povo mais atingido pelo
comércio de escravos
Tanto a
mulher como o “outro” colonizado estão no mesmo patamar porque ambos estão fora
da estrutura que detém o poder, sendo portanto, marginalizadas
Para a
antropóloga Ifi Amadiúme, o género em Africa implica não só o o lado biológico
como também o papel social do indivíduo. A antropóloga destaca a flexibilidade
das relações de género observada na possibilidade da mulher se tornar esposa de
outra mulher. E essa flexibilidade se reflete também na linguagem, pois existe
o masculino, o feminino e o neutro.
No período
pré-colonial a mulher controlava a economia de subsistência, era responsável
pelo cultivo de alimentos. Elas administravam seus negócios através de sistemas
e mecanismos que envolvia uma poderosa maquinaria que consistia em “associações
da filhas”, “associações das viúvas”, etc. Atrsvés dessas associações elas
alcançavam o poder. De notar que os homens não se organizavam em associações
Muitos
autores caracterizavam a sociedade Igbo como democraática. As mulheres
trabalhadoras eram altamente valorizadas.
A
filhas-machos igbo, eram aquelas que ficavam na casa dos pais, tinham o poder de
presidir os negócios dos pais até que seus filhos crescessem e assumissem o controle.
Os maridos
fêmeas - O casamento entre mulheres com filhos ou sem eles era uma intuição que
dava prestígio social. Casar com uma mulher permitia mais lucro dado que era
elas que trabalhavam no cultivo.
Essas instituições
permitiam às mulheres escapar à opressão masculina pois a sexualidade feminina
era tabu, não havia homem mau mas havia mulher má (aquela que não dava de comer
ao marido). A colonização Inglesa veio reforçar essa opressão.
As raízes da misoginia cabo-verdiana
De acordo
com António Correia e Silva, a situação martirizante da mulher cabo-verdiana atual
tem suas raízes no passado, na formação da nossa sociedade.
O senhor
dos escravos e seus filhos apesar de estabelecerem família com as mulheres
europeias, também usavam as escravas para o prazer sexual.
As
relações entre os homens e mulheres escravos eram frágeis devido à dificuldade de
se manterem unidos dado ao sistema escravocrata.
Para o
autor a repetição incessante destas práticas ao longo dos séculos, contribuiu
para a formação do imaginário feminino de hoje.
Segundo
Correia e Silva, apesar da opressão tanto a escrava como as esposas europeias
encontraram formas de contornar o sistema misógino colonial. Muitas viúvas de
senhores colonias se tornavam senhoras das suas propriedades. As escravas, por
outro lado, viam as relações com os senhores como uma forma de alcançarem a
carta de alforria para elas e seus filhos.
Podemos
arriscar uma afirmação, não menos pacífica, que a prática inteligente das
escravas ainda perdura através da concorrência entre mulheres da atualidade,
aquelas que reproduzem o machismo de modo inconsciente para a sua suposta “sobrevivência”.
Bibliografia
Obra
- DILEMAS
DE PODER NA HISTÓRIA DE CABO VERDE, 2013, António Correia e Silva
Artigos
- AS
MULHERES INDÍGENAS NAS LUTAS CONTRA A OPRESSÃO E DOMINAÇÃO COLONIAL NO PERU
(SÉCULOS XVI-XIX) Susane Rodrigues de Oliveira Rev.
SBPH v.8 n.2 Rio de Janeiro dez. 2005
- DIÁLOGOS
SOBRE O USO DO VÉU (HIJAB): EMPODERAMENTO, IDENTIDADE E RELIGIOSIDADE Francirosy Campos Barbosa FERREIRA, USP
- A MULHER
E SUA POSIÇÃO NA SOCIEDADE: DA ANTIGUIDADE AOS DIAS ATUAIS Glauce Cerqueira Corrêa da Silva1;
Luciana Mateus Santos2;
Luciane Alves Teixeira3;
Maria Alice Lustosa4;
Silvio César Ribeiro Couto5;
Therezinha Alves Vicente6;
Vânia Pereira Fagundes Pagotto7 Santa
Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro
-
FEMINISMO ASIÁTICO: IDENTIDAE, RAÇA E GÉNERO, Caroline Ricca Lee