quarta-feira, 27 de julho de 2011

Aqui há tempo a mais

Aqui há tempo a mais



“Tempo é dinheiro.” Um dito popular global do quotidiano usado com mais frequência em territórios onde há uma percentagem de activos profícua ao fenómeno do progresso.



Em alguns casos seria melhor dizer: “Tempo é tempo”.

No nosso país, por exemplo, a maioria desconhece a ligação real de tempo a dinheiro. Aqui o tempo sobra. Para as gentes da terra há sempre tempo.



A humanidade tem plena consciência do mapa cujos caminhos levam ao progresso, mas, alguns humanos ignoram esses mapas. Há culturas que preferem acreditar numa hipotética organização excêntrica do caos. Simplesmente para alimentar a doce ilusão de se ser infinito no tempo.



Em Cabo Verde, que é um país a caminho do desenvolvimento, a avidez de plenitude reflecte-se no consumismo, na cultura da superficialidade e na falsa simplicidade zen que finge cultivar o profundo mas não sai da bóia. Quando isso é regra num país como o nosso, perguntamos que tipo de desenvolvimento pretendemos alcançar? É um desenvolvimento que realmente leva ao progresso? O que estamos a fazer com o tempo que “temos”?



O sistema imunitário humano aprende uma lição com cada invasão e evolui. Os genes, por sua vez, passam de geração em geração apreendendo a lidar com “os tempos”.

Com o tempo somos mutantes. Tal como águas passadas não movem moinhos.

A evolução, de acordo com Darwin, é oportunista, aproveita as mudanças do ambiente para avançar. Isso para mencionar sobre o valor do tempo.

Em alguns cantos do planeta há uma consciência de preservação ambiental, temos o exemplo do conceito da modernidade: “desenvolvimento sustentável”, que no fundo significa: pensar e agir de acordo com o bem-estar e o progresso das futuras gerações.

No nosso país, embora seja pobre, promove-se atitudes consumistas, elitistas e impessoais que consequentemente geram vários problemas sociais que enfraquecem a massa humana. Essa busca da imortalidade simbólica através da sede de plenitude leva ao esbanjamento do tempo que por sua vez corrompe a condição de país em desenvolvimento.



Desvanece-se em simbiose com o tempo, embora muitos tenham a certeza que ao medi-lo estão a exercer controle sobre ele. A falsa certeza de se controlar o tempo tem sido o guia espiritual para muito boa gente. Uma ilusão que ainda mora secretamente no coração de muitos que recusam consciente ou inconscientemente usar o tempo de acordo com o conceito de “desenvolvimento sustentável”.


sexta-feira, 22 de julho de 2011

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O Vácuo




Antigamente defendia-se que o centro devia emanar todas as formas e moldes de ser e estar. Não se acreditava na singularidade.



É certo que existe uma particularidade em cada elemento, cada elemento tem o seu ritmo próprio, a sua fórmula de vida.



Crescer acreditando que só podemos andar telecomandados suprime o desenvolvimento das nossas capacidades próprias. Fazer acreditar que a vida melhor está no centro é abrir caminho para a estigmatização negativa daquele que não vive no centro, o que consequentemente compromete o progresso geral.



Mas isso já é passado. Hoje em dia já não se lembra que existiu uma forma de vida para além do centro, hoje em dia o centro adquiriu vida própria, é um criador de novos conceitos. Melhor dizendo já não há periferia, não há forças produtivas capazes de criar a antítese do centro.



O centro em tempos foi uma opção viável. Mas hoje é a equação de vida mais aplicada. O centro está na moda. Quem não reconhece isso é alienado, parou no tempo, deixou de evoluir.



Falar de vida extra-centro é sugerir a existência de um universo paralelo ininteligível.



Um dos sintomas que denunciam o estado de anexado é quando se acredita que o extra-centro é debilitado, sem capacidades.

O centro executa anexações pela via da lavagem cerebral a longo prazo.

O centro não está distante, como parece, ele age em cada entrelinha do nosso quotidiano, é assim que a anexação avança. É assim que a fórmula extra-centro cede e passa a ser apenas uma memória ténue.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Carta de um estudante universitário nas ilhas

Caro Brother,



Há muito que não tenho notícias tuas, tudo bem por aí? Assim espero.

Tenho algumas novidades, como sabes completei 21 anos, sem perspectiva de emprego decidi continuar os meus estudos.

Sou estudante do ensino superior, acredito que ao estudar estou a investir no meu espírito e a participar no desenvolvimento humano do meu país.



Quando terminar o curso continuarei a investir no ensino superior, vou construir a minha universidade. Já estou a imaginar: Um edifício imponente de betão armado, de aspecto sóbrio por dentro de acordo com a suposta seriedade do mundo académico.

Ah, aquele doce branquinho alvo das paredes, aquele cheirinho a papel fresquinho saído da fotocopiadora. Outra coisa ahm, dzê lá amigo.

É preciso faro para o negócio. Havendo terreno, investe-se em cimento, gravilhas, tinta branca, pronto, meio caminho andado, depois pensa-se nos pormenores terciários da biblioteca.

Mas eu apostarei na qualidade, nada de propinas de 13 ou 18 mil escudos mensais, a qualidade exige preços muito mais altos…Sim, se as propinas forem mais caras ganharei mais… Os professores ganharão mais e estarão mais sorridentes, permitindo um melhor clima nas aulas, os alunos terão melhores notas e orientar-se-ão melhor uns aos outros nas teses. Nada de pensar pequeno…

O mercado está virado para o ensino superior. Se trabalhas na função pública e afins, não te apoquentes com a inactividade, ou com o tempo morto ou mesmo com tédio laboral. Ultrapassa o bicho papão do livro de ponto! Estude ou seja professor numa dessas universidades, assim todos ficam sábios e felizes.



Amigo, é com prazer que escrevo estas linhas singelas, pois eu sei que estas novidades irão certamente despertar em ti um imenso júbilo de ver tanto progresso ao mesmo tempo. Espero que passes um bom Verão e esteja atento, onde há um terreno baldio, daqui a dias será uma alva, bela e primorosa universidade.



Com amizade



Bro.



PS: Brother, brother junta-te a nós e serás bem-aventurado.

e se não sabes gingar, então conta uma história (o mais pequeno irá cercar depois)

junta-te a nós, somos o futuro!! Turo uro uro uu