quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Caboverdianamente

Caboverdianamente


Detém-te lágrima

Não ferimos ainda o último combate

Ah este desejar loucamente o sol

este ansiar febril por fonte que não há



Detém-te e espera

caboverdianamente espera

o dia em que

devagarinho

penetrarás

a terra seminada de esperança



Detém-te lágrima

que estás no limiar do reino encharcado de ol

do belo reino encharcadode sol

a razão crioula da nossa luta



Detém-te e olha

as palavras feitas raizes

entrelaçadas de amor

e sangue

confundidas na mesma seiva

que alimenta montes e sargaços



Detém-te lágrima

e aguarda

calmamente aguarda

caboverdianamente..







Um dos cem poemas de Ovídio Martins, extraído da obra "Gritarei, berrarei, matarei, não vou para Pasárgada" 1962




Como diz o senso comum: "A História, repete-se a si mesma". Citar Ovídio Martins e este poema em particular é falar do caboverdiano como um ser humano que ainda está a trabalhar a Liberdade de "poder"trabalhar, de "poder" suprir as necessidades daquilo que faz falta, de "poder" ser e de "poder" fazer. O poema é de 1962 mas é mais ainda de 2010. Porque somos cabo-verdianamente aquele que se constrói buscando o desenvolvimento através da liberdade de Ser.




O desenvolvimento não é um corpo belo esguio mas sem mãos, o desenvolvimento é um corpo completo proporcional, alcançá-lo é ainda quase uma utopia, e quando alcançado será então algo duro de manter..

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