sábado, 28 de novembro de 2009
O dom
ENTÃO um homem rico disse: - Fala-nos do Dom.
E ele respondeu:
- Dais muito pouco, quando dais daquilo que vos pertence.
Quando vos dais a vós mesmos é que dais realmente.
Que é aquilo que vos pertence,
senão coisas que conservais ciosamente,
com medo de vir a precisar delas amanhã?
E amanhã, que trará o amanhã ao cão demasiado prudente que enterra os ossos na areia movediça enquanto segue os peregrinos a caminho da cidade santa?
E que é o medo da miséria, senão a própria miséria?
Quando o vosso poço esta cheio,
não é o medo à sede que torna a vossa sede insaciável?
Alguns dão pouco do muito que têm,
e fazem isso em troca do reconhecimento,
e o seu desejo oculto corrompe os seus dons.
Outros têm pouco e dão tudo.
Estes são os que acreditam na vida,
na bondade da vida,
e o seu cofre nunca está vazio.
Há quem dê com alegria,
e esta alegria é a sua recompensa.
Há quem dê cheio de dores,
e essas dores são o seu baptismo.
Há ainda quem dê, inconsciente da sua virtude,
sem nisso sentir dor nem alegria.
Dão como os mirtos do vale que a espaços atiram para o céu o seu perfume.
É bom dar quando nos pedem;
e é bom dar sem que nos peçam, como bons entendedores.
E para o homem generoso,
procurar aquele que vai receber é maior alegria do que dar.
E haverá alguma coisa que possais conservar?
Tudo quanto possuís será dado um dia.
Portanto, dai agora,
para que o tempo de dar seja vosso e não dos vossos herdeiros.
Muitas vezes dizeis: - Gostava de dar mas só aos que merecem.
As árvores dos vossos pomares não falam assim,
nem os rebanhos das vossas devesas.
Dão para poderem viver,
porque guardar é perecer.
Por certo aquele que é digno de receber os seus dias e as suas noites,
é digno de receber de vós tudo o resto.
E aquele que mereceu beber do oceano da vida
merece encher a sua taça do vosso regato.
E que maior merecimento do que aquele que reside não na caridade,
mas na coragem e na confiança de receber?
E quem sois vós para que os homens devam rasgar o peito diante de vós, vencendo o orgulho, para poderdes ver o seu mérito a descoberto e a sua altivez manifesta?
Procurai primeiro merecerdes ser doadores e instrumentos de doação.
Porque, em verdade, é a vida que dá à vida, e quando julgais ser doadores, sois apenas testemunhas.
E vós que recebeis
– e todos sois recebedores – não atireis para cima de vós o peso da gratidão, sob pena de impordes um jugo a vós mesmos e àquele que dá.
Mas elevai-vos juntamente com o doador, usando os dons como asas.
Porque ligar demasiada importância à vossa dívida é duvidar da sua generosidade, que tem por mãe a Terra magnânima e Deus como pai.
Khalil Gibran
terça-feira, 24 de novembro de 2009
Miséria no Japão
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
Miss GANG, para quando?
Lembro-me dum tempo em que São Vicente ficava em estado de alerta quando os famosos bandidos, Rob Djula e Tectec fugiam da cadeia. Ouvia-se dizer que eles fugiam para as rochas, como nos filmes de coboi, e lá eram capturados, através emboscadas com direito a tiroteio e tudo. Ficávamos imaginando as cenas e principalmente como seria o aspecto físico de Rob Djula e do Tectec. Como nos filmes todos são bonitos, imaginava-os bem parecidos. O tempo foi passando, os filmes de coboi passaram de moda, chegaram os filmes dos gangs americanos. Acompanhando o ritmo de Hollywood, a população aumentou, daí, o número suficiente de pessoal para protagonizar o papel ganguístico. As actuações mais espectaculares são sazonais, no Carnaval, no Halloween, e na época natalícia.
Se isso não for possível, porque não organizar concursos de miss e mister gang? Assim, criávamos um novo produto dois em um.
Imagens: www.fottus.com
terça-feira, 17 de novembro de 2009
Fui ver, era...
Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente e a chuva não bate assim.
É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia dos pinheiros do caminho...
Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.
Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria...
- Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!
Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...
Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança...
E descalcinhos, doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...
Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...
E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza - e cai no meu coração
Augusto Gil
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
Até quando
Não adianta olhar pro céu com muita fé e pouca luta
Levanta aí que você tem muito protesto pra fazer e muita greve
Você pode e você deve, pode crer
Não adianta olhar pro chão, virar a cara pra não ver
Se liga aí que te botaram numa cruz e só porque Jesus sofreu
Num quer dizer que você tenha que sofrer
Até quando você vai ficar usando rédea
Rindo da própria tragédia?
Até quando você vai ficar usando rédea
Pobre, rico ou classe média?
Até quando você vai levar cascudo mudo?
Muda, muda essa postura
Até quando você vai ficando mudo?
Muda que o medo é um modo de fazer censura
Até quando você vai levando porrada, porrada?
Até quando vai ficar sem fazer nada?
Até quando você vai levando porrada, porrada?
Até quando vai ser saco de pancada?
Você tenta ser feliz, não vê que é deprimente
Seu filho sem escola, seu velho tá sem dente
Você tenta ser contente, não vê que é revoltante
Você tá sem emprego e sua filha tá gestante
Você se faz de surdo, não vê que é absurdo
Você que é inocente foi preso em flagrante
É tudo flagrante
É tudo flagrante
A polícia matou o estudante
Falou que era bandido, chamou de traficante
A justiça prendeu o pé-rapado
Soltou o deputado e absolveu os PM's de Vigário
A polícia só existe pra manter você na lei
Lei do silêncio, lei do mais fraco:
Ou aceita ser um saco de pancada ou vai pro saco
A programação existe pra manter você na frente
Na frente da TV, que é pra te entreter
Que pra você não ver que programado é você
Acordo num tenho trabalho, procuro trabalho, quero trabalhar
O cara me pede diploma, num tenho diploma, num pude estudar
E querem que eu seja educado, que eu ande arrumado que eu saiba falar
Aquilo que o mundo me pede não é o que o mundo me dá
Consigo emprego, começo o emprego, me mato de tanto ralar
Acordo bem cedo, não tenho sossego nem tempo pra raciocinar
Não peço arrego mas na hora que chego só fico no mesmo lugar
Brinquedo que o filho me pede num tenho dinheiro pra dar
Escola, esmola
Favela, cadeia
Sem terra, enterra
Sem renda, se renda. Não, não
Muda, que quando a gente muda o mundo muda com a gente
A gente muda o mundo na mudança da mente
E quando a mente muda a gente anda pra frente
E quando a gente manda ninguém manda na gente
Na mudança de atitude não há mal que não se mude
nem doença sem cura
Na mudança de postura a gente fica mais seguro
Na mudança do presente a gente molda o futuro
Gabriel O Pensador
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
To Bonga
"...Catacombs,
domingo, 1 de novembro de 2009
Opinião
Penso que com Animatrix aprendemos que cada um pode escolher entre a conciência e a inconsciência. No filme, a evolução humana ultrapassa os limites da própria humanidade. Mesmo no auge do seu domíno sobre o homo sapiens, o sistema operativo das máquinas apresenta falhas. Essas falhas representam uma nova esperança para a libertação dos humanos em direção à vida real. Trata-se de uma revolução contra o mundo das máquinas.
A mensagem do filme mostra-nos que problema das máquinas foi terem herdado os mesmos erros da humanidade. Sendo esta a peça chave, ela terá de reinventar-se pegando na sua faculdade de adaptação, fazendo-se valer dos direitos humanos de evoluir através das suas próprias capacidades e não deixar-se adormecer nas convenções.